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Condomínio de luxo que tem Sarney como sócio ameaça quilombo em Brasília

BBC

Antes de sediar os prédios mais importantes de Brasília, a Esplanada dos Ministérios abrigava um campo aberto onde descendentes de escravos levavam bois para pastar.

Eram moradores do Quilombo Mesquita, instalado na região desde o século 18 e que teve um papel importante – e pouco conhecido – na fundação da cidade.

Passados 272 anos desde sua criação, o mesmo quilombo agora se vê ameaçado pela expansão da capital e pela acelerada valorização das terras na região – alvo do interesse de uma imobiliária que tem o ex-presidente José Sarney como sócio. Procurado pela BBC News Brasil, o ex-presidente não quis se pronunciar.

“Quilombolas tiveram uma participação direta na construção de Brasília, mas, infelizmente, raramente aparecem na história como personagens principais”, diz à BBC News Brasil o pesquisador Manoel Barbosa Neres, autor do livro Quilombo Mesquita – História, Cultura e Resistência e morador da comunidade, na divisa do Distrito Federal com Goiás.

Muitas vezes, terras adquiridas dos quilombolas eram logo revendidas. Uma dessas transações trouxe ao território o político maranhense José Sarney.

Segundo o relatório do Incra, Sarney comprou nos anos 1980 dois lotes de terra que haviam sido expropriados da comunidade no passado. Um dos terrenos deu origem à Fazenda Pericumã, que Sarney visitava aos fins de semana enquanto era presidente.

Em 2004, ele vendeu as propriedades para a Divitex Pericumã Empreendimentos Imobiliários, da qual se tornou sócio. Outro sócio da empresa é o advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, que tem como clientes vários políticos ilustres em Brasília.

Com a expansão da malha urbana, um condomínio de baixa renda – o Jardim Edite – foi construído dentro da área inicialmente pleiteada pelo quilombo. Em 2011, o Incra excluiu o conjunto habitacional do território em demarcação.

A demarcação do quilombo teve um desdobramento no fim de maio, quando o Conselho Diretor do Incra publicou uma resolução que autorizava o presidente do órgão a reduzir o tamanho do território para 971 hectares, 22% da área originalmente prevista.

Em nota à BBC News Brasil, o Incra disse que a redução havia sido proposta pela Associação Renovadora Quilombo Mesquita, uma organização comunitária dos quilombolas.

Ex-presidente da associação, Sandra Pereira Braga diz que a proposta da gestão atual não tem o respaldo da comunidade e foi articulada “em conluio com empresas, fazendeiros e especuladores” interessados no território.

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