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Tem gente brincando com fogo ao pedir intervenção militar

Os pedidos de intervenção militar que se multiplicaram pelo Brasil desde o início da greve dos caminhoneiros revelam o outro lado de um movimento que começou como protesto contra o aumento do preço do diesel. Trata-se de uma mistura de indignação “com tudo que está aí”, como em 2013, com a fantasia de que todos os problemas do país seriam resolvidos se os militares retornassem ao poder. Esquecem os pregadores do golpe que no regime vigente de 1964 a 1985 esse tipo de protesto não era permitido. Se alguém tentasse, seria contido pela força dos tanques.

Os civis que se plantam às portas dos quartéis pedindo intervenção ignoram que boa parte dos problemas do Brasil, inclusive a dependência absoluta do transporte rodoviário, começou com Juscelino Kubitschek e se consolidou com os governos militares. Esquecem, ou nunca se interessaram em saber, quantos bilhões foram gastos na Transamazônica, para deleite dessas mesmas empreiteiras cujos métodos corruptos se tornaram conhecidos na Lava-Jato.

Nos protestos de 2013, que começaram com o aumento da passagem de ônibus, os alvos eram múltiplos. Não era pelos 20 centavos. Os brasileiros foram para a rua protestar contra tudo e todos — os políticos em primeiro lugar. O esvaziamento começou quando os blackblocs assumiram o protagonismo e passaram a promover atos de violência, com depredação de prédios públicos e privados.

As manifestações voltaram em 2015 com um foco definido: a queda da presidente Dilma Rousseff, reeleita em votação apertada no final de outubro de 2014. Dilma caiu em maio de 2016, mas o governo que a sucedeu não fez nada do que prometera. Vieram a público os esquemas de corrupção envolvendo Temer e seus ministros, fazendo crescer a ira da população. Hoje, a impopularidade do presidente supera a de Dilma às vésperas do impeachment.

Encastelados nos palácios de Brasília (Planalto, Jaburu e Alvorada), com um serviço de inteligência que não merece esse nome, os homens do presidente não perceberam o nascimento da greve que parou o país e provocou a pane seca. A falta de combustíveis, somada com a greve dos caminhoneiros autônomos e o locaute das empresas – agora mais claro do que nunca – afeta praticamente todos os setores, com risco de agravamento nos próximos dias e prejuízos bilionários que podem resultar na volta da inflação alta e no agravamento do desemprego.

Tem gente brincando com fogo sem perceber o risco de incendiar o país. Com o fracasso da nova negociação do governo com os caminhoneiros, a greve continua. Para manter os serviços essenciais, as polícias estaduais começaram a escoltar caminhões de combustível no fim de semana. O problema é que faltam motoristas e o transporte de combustível exige profissionais especializados na operação de descarga. Para piorar a situação, a Brigada Militar registrou casos de sabotagem ao sistema de freios de caminhões, para impedir que furem o bloqueio.

ALIÁS: A  Brigada Militar tem 35 motoristas aptos a dirigir caminhões de combustíveis, mas para isso precisa que as distribuidoras demonstrem interesse em realizar as entregas. Se não houver disposição a partir desta segunda, poderá ser  necessária a requisição judicial.

Do blog Rosane de Oliveira

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