Notícia

De lobos, ovelhas e ortopedia

Por Carlos Lula

(Advogado e secretário Estadual de Saúde)

Os acontecimentos da última semana me fizeram lembrar Esopo, o maior escritor de fábulas de todos os tempos. Numa delas, ele narra que um lobo, ao encontrar um filhote de ovelha desgarrado, decidiu mudar de tática e não apenas devorá-lo, mas encontrar argumentos para justificar o motivo pelo qual aquele cordeiro, por direito, deveria, por ele ser devorado.

O lobo iniciou lembrando o cordeiro de que, no ano anterior, ele o tinha ofendido. O cordeiro afirmou aquilo ser impossível, pois ele sequer havia nascido. Cada argumento do lobo era rebatido pelo cordeiro, até que o lobo, já sem paciência, pula sobre o cordeiro afirmando que não ficaria sem alimento apenas porque o cordeiro refutava cada motivo que era apresentado.

Do mesmo modo acontece com terras maranhenses, onde o argumento pouco importa, senão passar a percepção de uma falsa crise envolvendo o novo Hospital de Traumatologia e Ortopedia (HTO). Pois bem, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil está entre os cinco países onde mais ocorrem acidentes com mortes no trânsito. Já segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e o Ministério da Saúde, para cada acidentado que morre no trânsito há, em média, três vítimas que ficarão com sequelas.

Os dados são preocupantes e nos alertam para um problema de saúde pública, tendo em vista que grande parte das vítimas dependem dos serviços do Sistema Único de Saúde (SUS). Os pacientes acidentados muitas vezes ficam impossibilitados de trabalhar, principalmente enquanto aguardam pelo procedimento. No Maranhão, cerca de 70% dos pacientes internados na ortopedia dos hospitais de emergência são vítimas de acidente de moto.

Considerar, portanto, o trauma como uma doença – com diagnóstico, prevenção e tratamento – é o primeiro passo para se avançar no atendimento às vítimas. Se você parar pra pensar, todo mundo conhece alguém que morreu ou ficou gravemente ferido por conta de acidente de trânsito ou outra causa de trauma. Os acidentes de moto são os que mais causam traumatismo de membros. Precisamos encarar esse problema e trabalhar com estratégias que possam ampliar o atendimento nessa área. Eis a razão pela qual o Hospital de Traumatologia é uma necessidade.

Há tempos negligenciada no estado, a falta de investimentos na área de traumatologia provocou um vazio assistencial no que se refere aos cuidados com os traumatizados e, consequentemente, o crescimento contínuo de uma demanda por procedimentos nessa área. É com o objetivo de preencher esse vazio e pagar uma dívida histórica à população maranhense que o governo tem planejado e executado ações e serviços por todo o estado.

Desde o início da gestão, o poder público estadual vem, por exemplo, realizando uma série de cirurgias ortopédicas de forma eletiva, além dos procedimentos regulares em onze hospitais pelo interior do estado. A iniciativa promoveu um aumento no número de atendimentos realizados em comparação com a gestão anterior. A média mensal de trinta procedimentos de alta complexidade realizados somente na capital durante os últimos meses de 2014 saltou para oitenta por mês em 2017. No interior do estado, o número saltou de 370 para 1400 cirurgias mensais.

Com o Hospital de Traumatologia e Ortopedia no Maranhão (HTO), a proposta é realizar, em uma estrutura adequada e com equipe especializada de profissionais, cerca de 400 cirurgias mensais, quase cinco vezes mais do que é realizado atualmente no Hospital de Câncer do Maranhão. O HTO terá destinação exclusiva e trará a celeridade necessária aos cuidados com os pacientes de trauma ortopédico.

A unidade fará do Maranhão o primeiro estado do Nordeste com uma unidade de alta complexidade destinada ao exclusivo atendimento traumaortopédico, ambulatorial e cirúrgico, no sistema público de saúde. O HTO ofertará procedimentos de média e alta complexidade que contemplarão tanto cirurgias quanto atendimento ambulatorial. Com tecnologia de ponta, na unidade serão realizados procedimentos como alongamento ósseo, implante de próteses articulares e tratamento de crianças com doenças musculoesqueléticas.

A oposição poderia fazer um grande debate político sobre a saúde pública, mas prefere apostar no caos e usar sua estrutura midiática para propagar inverdades. Tal como na fábula de Esopo, o tirano sempre vai encontrar um argumento capaz de justificar sua tirania, o lobo sempre vai encontrar um motivo para devorar o cordeiro.  Dessa vez, pode vir lobo ou mesmo uma alcateia, encontrarão a devida resistência, porque a sociedade não mais pode esperar esse importante equipamento de saúde pública.

Estamos trabalhando incansavelmente para oferecer o melhor para a população maranhense, especialmente àqueles que necessitam e acreditam no SUS para receber atendimento. É com esses cidadãos que estamos preocupados e é por eles que seguimos em frente, rumo a uma saúde mais digna para todos. Contra qualquer tipo de lobo.

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