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Partidos mudam de nome, excluem o ‘P’ e querem ser chamados de movimento

Rede Brasil Atual

Em tempos de delações, com acusações de recebimento de propinas e caixa dois revelados por seus antigos financiadores, velhos partidos, com a mesma estrutura partidária e com os mesmos presidentes, usam o discurso do “novo, e da “modernidade”, para atrair os votos dos eleitores nas próximas eleições de 2018. No entanto, o novo e moderno fica só no discurso: as novas siglas que vão surgindo no cenário político brasileiro estão abandonando o ‘P’ (de partido) para passar a ideia de que são “movimentos”, em vez de tratar-se de uma organização política, composta e comandada por políticos.

O PTN (Partido Trabalhista Nacional), legenda sob a qual Jânio Quadros se elegeu presidente, virou Podemos. A presidenta nacional do partido, deputada federal Renata Abreu, de São Paulo), diz que a versão nacional do Podemos não é de direita e nem de esquerda e a inspiração para o novo nome veio do “yes, we can” ( sim, nós podemos) de Barack Obama.

Em entrevista, Renata disse: “Chega de direita ou esquerda. A ideologia não vai mudar um país”. O senador Álvaro Dias, eleito pelo PSDB e que estava no Partido Verde (PV), filiou-se na semana passada ao Podemos e deve sair candidato à eleição presidencial do ano que vem. Romário (PSB-RJ) também acertou filiação ao Podemos, e poderá ser candidato ao governo estadual do Rio, também em 2018.

Depois de 27 anos como Partido Trabalhista do Brasil, o PTdoB (que filiou o ex-petista Cândido Vaccarezza, citado em delações), passará a se chamar Avante. Os dirigentes do partido não escondem que a mudança de nome não tem a ver com ideologia progressista. Só querem mesmo é tirar o “PT” do nome, temendo não terem votos nas eleições de 2018.

Mas talvez esse não seja o verdadeiro motivo. O partido avalia que pode sair “torrado” das urnas por fazer parte da base eleitoral de Michel Temer (PMDB). E pior, por levar “trabalhista” no nome, mas votar contra os trabalhadores.

O Avante abriga também o combativo Silvio Costa (PE), deputado federal que emergiu de partidos de direita para brilhar como defensor da ex-presidente Dilma e hoje diz querer “reinventar a esquerda”. Sobre o nome da legenda, definido com a ajuda de profissionais de comunicação, o presidente do partido, Luiz Tibé (MG) diz que “convida à ação, ao novo, à mobilização e à união de um grupo na busca de soluções para o futuro”. Apesar do discurso de inovação, Tibé é presidente do PTdoB há mais de 10 anos.

Também com discurso de renovação na política, o Partido Social Liberal (PSL), passará a se chamar apenas Livres. O PSL, registre-se, apoiou o tucano João Doria nas eleições municipais em São Paulo, e faz parte da base tucana no estado.

Não são apenas os pequenos partidos que pensam em mudar de nome. No ano passado, o presidente do PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro), o senador Romero Jucá (RR), apresentou uma proposta para o partido voltar a se chamar apenas MDB.

Políticos peemedebistas estão entre os mais afetados pelas recentes delações premiadas e investigações da operação Lava Jato e algumas das principais lideranças da legenda encabeçam dezenas de denúncias. “Queremos deixar de ser partido e ser um movimento. Ou seja, algo mais forte, algo mais permanente, com uma ação constante”, disse Jucá em entrevista coletiva.

Pode parecer irônico, mas não é. O deputado cassado Valdemar Costa Neto (ex-Partido da República, o PR), condenado no mensalão e investigado na Operação Lava Jato, é tido como um dos responsáveis pela criação de um novo partido que prefere esconder a própria natureza, o ‘Muda Brasil’.

A nova legenda, tem diversos nomes ligados ao PR. O ex-parlamentar, condenado por lavagem de dinheiro e por corrupção, ainda tem grande ascensão sobre seus correligionários.

Foi o PFL, partido de sustentação dos militares e que passou a se chamar Democratas (DEM), que em 2007 iniciou a “modinha” de abandonar o termo “partido” do nome oficial da legenda, como forma de se diferenciar dos demais concorrentes.

Em 2015, criada por – e em torno de – Marina Silva, apareceu a Rede Sustentabilidade. O Solidariedade é outra legenda que aboliu o termo partido e agora se diz movimento. Ele foi criado em 2013 pelo deputado Paulinho da Força, que responde inquérito no STF depois de ser delatado por executivos da Odebrecht.

Para Antônio Augusto Queiroz, o Toninho, diretor de Documentação do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), “as mudanças são explicadas de formas diversas, mas, além da fuga ao desgaste dos partidos, representam a esperança de repetir, no Brasil, o sucesso dos ‘partidos-movimentos’, que emergiram fora de estruturas políticas tradicionais e conseguiram rapidamente bom desempenho eleitoral — caso do francês Em Marcha, do italiano Cinco Estrelas e, claro, do espanhol Podemos. “Não adianta mudar de nome se não mudarem os atores. O PFL passou a se chamar DEM, mas o partido manteve seus caciques e continuou do mesmo tamanho”, diz Augusto Queiroz.

Se os antigos partidos estão eliminando o ‘P’ do nome, a fila dos novos para serem criados, que aguardam a liberação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), já vem sem essa letra na sigla do nome.

Tem Igualdade, Manancial, União da Democracia Cristã do Brasil, Patriotas, Força Brasil, Movimento Cidadão Comum, Raiz Movimento Cidadanista, Renovar e uma série de outros. O TSE analisa o pedido de registro de ao todo 34 partidos, o que quase iguala os 35 partidos registrado atualmente – ou seja, se forem todos homologados, o Brasil chegará à marca de 69 siglas que, mesmo sem receber nenhum voto, terão direito a verbas do Fundo Partidário, tempo de propaganda em TV e rádio, além de direito a participar das disputas eleitorais sem cláusula de barreira.

E assim caminha o debate político nesse país. A conferir.

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